Meu antigo quarto era simples, eu o dividia com a minha irmã e é graças a
isso que eu aprendi a compartilhar. O guarda roupa era “nosso”, a mesinha de
cabeceira era “nossa”, o espaço era “nosso”. Meu mesmo, do tipo só meu, apenas
a cama e um velho baú que eu entupia com lembranças bobas de momentos bons como
papéis de bala e revistas de Sandy e junior. Meu quarto antigo tinha algumas
coisas que eu muito valorizo em um quarto e que mais me fazem falta hoje em dia:
luz natural, espaço, ventilação e paz.
Meu novo quarto não tem nada disso, a luz é artificial e mesmo com uma
telha imensa transparente que mandei colocar no teto, ainda me sinto sufocada
com a luz que entra e que apenas deixa o ambiente mais desconfortável ainda.
Ventilação nem se fala, com essa moda de casa coladas umas nas outras
meu quarto pequeno mais parece uma prisão sufocante. E sobre ser pequeno, eu
menti, é minúsculo. Eu o resumiria como um pequeno quadrado amontoado de
coisas. Uma cama desconfortável, um ventilador barulhento, um guarda roupa sem
portas(por escolha minha é claro. Talvez uma necessidade de procurar nas roupas
expostas a pessoa que já fui).
Ainda uma mesa que comporta apertadamente os livros que ainda não li e
uma outra com a finalidade de aconchegar meu grande companheiro, o computador. Meu
antigo quarto tinha fotos espalhadas, bichos de pelúcia e a música que tocava
sempre era as minhas preferidas. Meu novo quarto está entupido de prateleiras
pra receber meus inúmeros enfeites que teimo em deixa-los expostos mesmo
sabendo que terei raiva por isso.
E a música? Essa não se vê há muito tempo, não há espaço pra dançar e não
poderia cantar sem ofender a meia dúzia de vizinhos que sabem de có quantas
respiradas dou por dia, sem falar que em nenhum momento eu consigo me imaginar
ganhando a guerra que seria pela direito de ouvir algo com uma igreja na rua de
baixo que perturba meus domingos com missas infinitas e gritos desnecessários.
Meu novo quarto só me forneceu algumas poucas boas lembranças, como
quando 5 pessoas conseguiram dormir ao mesmo tempo na minha cama após horas de
boas conversas. O momento foi quase como brincar de tétris na vida real. Ou
quando chamei duas amigas pra ver um filme e nos revezamos em dois colchões e
no fim dormi sozinha no chão por que as meninas estavam com medo da minha
cachorra. Ou ainda os inúmeros filmes que assisti com meus vizinhos, as
inúmeras conversas filosóficas que tive e outras coisinhas mais que ainda me
perturbam a memória.
Nada disso se compara as tardes de domingo em que eu sentava na janela do meu antigo quarto e sentia o vento assanhar meus cabelos, enquanto ouvia Sandy cantando no meu ouvido que “a história é sempre igual, as folhas caem no quintal, só não cai o meu amor, pois não tem jeito, é imortal...”.
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