sexta-feira, 25 de novembro de 2016

É mais fácil fingir que está tudo bem do que dar explicações

Hoje foi um dos piores dias da minha vida. Tentei trabalhar mas não consegui, tentei sair de casa mas não consegui, tentei ser produtiva mas também não consegui. Tudo por que hoje foi uma das piores crises de depressão que eu já tive. Sim, eu tenho depressão. Fui diagnosticada aos 13 anos. Apenas 2 pessoas sabiam disso até hoje. Sei que não vai mudar muito por que quase ninguém lê esse blog, mas eu queria contar. Eu queria colocar pra fora um pouco do que eu tô sentindo e quem sabe mostrar as pessoas como é ter depressão.

Primeiro, é uma doença, não é frescura, não é charme e não queremos chamar atenção. Só para terem uma idéia, eu tenho 24 anos, tenho depressão desde os 13 e poucas pessoas sabem. Quando eu era mais nova e tinha alguma crise, a primeira coisa que diziam era que eu queria chamar atenção. Quando tentei me envenenar tomando alguns produtos(que na época eu não sabia que não me matariam, apenas que me fariam ter enjôos e vômitos), algumas pessoas próximas diziam que era uma fase, que eu era rebelde, revoltada e que eu tinha 'tudo', e não tinha motivos pra fazer aquilo. Segundo, quando se tem depressão não precisa-se de motivos. É um estado que não se controla. Com os anos eu me aperfeiçoei, coma  ajuda de minha mãe, aprendi a maquiar minhas crises e transparecer normalidade mesmo quando minha maior vontade era pular na frente do primeiro carro e acabar com o sofrimento. Tomei remédio durante dois meses apenas, e os abandonei com a promessa de que conseguiria me 'curar' sozinha(sempre odiei remédios). Bom, 11 anos se passaram e ainda não estou curada, mas consigo agir normalmente na frente das pessoas e reprimir os ataques de pânico ou os acessos de choro.

Não vou dizer que isso é saudável, as crises diminuíram de frequência mas aumentaram consideravelmente a intensidade. É muito comum amigos realmente próximos ficarem sem sinal de mim durante 2 ou 3 dias. Nesses períodos é natural o isolamento, a reflexão e a pior parte: decidir entre viver ou morrer. Por favor, não quero diminuir a importância disso falando de forma tão banal sobre a morte, mas só um depressivo real me entenderia.

Há dias que respirar dói, em que o choro é inevitável e procuramos desesperadamente algo pra se agarrar e não sucumbir às dores, por que dói. Dói no corpo, no peito, dói no pulmão quando forçamos respirar enquanto choramos, dói na cabeça e principalmente dói na alma. Um depressivo nunca é apenas um depressivo, é alguém bipolar, é alguém com TDAH, é alguém com ansiedade, com síndrome do pânico, e eu não precisei pesquisar pra saber disso tudo, por que eu tenho isso tudo.

Um depressivo é acima de tudo alguém que tenta(ou não) viver normalmente, que tenta não ouvir quando o criticam, que tentam não absorver o que é ouvido. Por que uma palavra para um depressivo pode ter muito mais impacto do que para uma pessoa que não sofre do mesmo mal. Na maioria das vezes a depressão é silenciosa e quando menos se espera, ela já tem consumido todo o individuo.

Então, como hoje foi um dos piores dias da minha vida(e talvez eu explique depois no futuro), eu queria escrever para as poucas pessoas que me lêem ou que poderão a vir me ler um dia, que se em algum momento eu fui apática com você, ou não te dei atenção, ou me afastei subitamente e reapareci como se nada tivesse acontecido, me desculpe. Mas eu aprendi que se afastar as vezes é melhor. Evita críticas e me ajuda a pensar. Por que antes eu tinha minha mãe como remédio, que me curava e me ajudava a superar tudo. Hoje eu não a tenho mais, mas tenho uma grande herança composta por muitas patinhas em casa.

Eles que se ditam no chão comigo enquanto eu choro, eles que não me cobram atenção quando estou mal e eles que me animam quando estou sozinha. Uso eles como forma de sustentação, foi difícil, mas consegui, Não estou curada, não estou bem, mas vivo. Trabalho, estudo, saio... E se uma crise aparecer? Corro pro banheiro mais próximo, choro como se não houvesse amanhã, lembro que tem algumas vidinhas que dependem de mim e volto com um sorriso no rosto. Por que é mais fácil fingir que está tudo bem do que dar explicações a pessoas que não tem real interesse no meu problema. Se você não sabia como era um depressivo, muito prazer.

~~Desculpem pelo desabafo e se errei algo. Hoje realmente foi difícil e não tenho ninguém pra me dar um abraço... E a saudade da minha mãe tá me sufocando.

4 comentários:

  1. Carla, deixa eu tentar te dizer uma coisa... Não vou te criticar ou tentar te diagnosticar pq n sou médica, muito menos psicóloga ou psiquiatra. Mas quem sustenta é Deus, quem te criou foi Deus e tudo que acontece na tua vida é permitido por Deus, mesmo contra Sua vontade.
    Isso significa que nada que vc tenha ou venha a ter é grande o suficiente a ponto de ser maior que Ele. Sua mãe, ou qualquer outra pessoa que vc tenha perdido está na presença Dele com toda certeza e isso é motivo de se alegrar pq essas pessoas cumpriram suas missões aqui na terra, e acredite que Deus tem um plano na sua vida assim cm teve p cada uma dessas pessoas... Quando eu te conheci eu notei que vc é uma pessoa incrível. Alguém que merece conquistar todos os seus sonhos e objetivos. Então não deixe que essa depressãozinha que quer te derrubar seja maior ou mais forte que vc ou que o Deus que te ama e te protege, pq ela não é. Muitos beijos de uma leitora fiel.

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    1. Tenho esperanças de um dia ter essa fé. Demorei muito a responder por que tudo que eu queria escrever sempre parecerá pouco pra fé que você coloca em deus. E isso é lindo. Eu preciso que deus exista, preciso que minha mãe esteja perto dele, sendo amparada por ele, e esteja olhando pra mim de onde estiver. Eu realmente preciso que isso seja real, mesmo sendo tão difícil de acreditar. Obrigado pelas palavras de carinho, isso sempre ajuda. E olha, fico ainda mais feliz por você ter gostado de mim(isso é raro, rsrs), isso inclusive me dá forças pra lutar pelos sonhos que batalho todos os dias, e agora é real, estou cada dia mais perto e mais determinada. Por que toda a força que eu precisava, a criação da minha mãe e agora a ausência dela, me deram.

      E muitíssimo obrigada por ser uma leitora fiel...É bom saber que alguém gosta dos meus desabafos e os meus acessos de blogueira! <3

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  2. Se eu tivesse rede social te parabenizava pelo ótimo texto.Entendo como um relato pessoal ,enfim,mas tem fluidez literária,bem armado ,e ao mesmo tempo passa verdade ,sem deixar de ser narrativo.Sobre fingir e fugir sempre me vem a cabeça o poema de Fernando Pessoa:
    AUTOPSICOGRAFIA

    O poeta é um fingidor.
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente.

    E os que lêem o que escreve,
    Na dor lida sentem bem,
    Não as duas que ele teve,
    Mas só a que eles não têm.

    E assim nas calhas da roda
    Gira, a entreter a razão,
    Esse comboio de corda
    Que se chama o coração.

    Já Lygia Fagundes Telles diz >

    Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas

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    1. Enlouquecer mais é impossível, falo com verdade, mas acredito no poder das letras e na capacidade real de criar feitiços reais. Como um poema de amor que acalenta o coração dos apaixonados, ou um texto de drama que lava os olhos dos mais sensíveis. Às vezes escrevo pra mim, às vezes pro leitor, e mais algumas pra uma versão de mim que ainda não conheço bem, mas afinal, o que seria do escritor senão o leitor que o acompanha.

      Obrigado por ter gasto o seu tempo vindo aqui e me maravilhado com o poema. Quando quiser aparecer, venha sem convite. A casa é nossa, branquinho! <3

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