No percurso pra casa, da janela do ônibus, olhou para o céu de um jeito que há muito tempo não olhava. Chorou baixinho sem saber por quê e pediu que lá existisse um serzinho mágico que cuidaria de tudo. Pediu que tivesse essa fé cega que muitas pessoas têm, mas que nunca conseguiu manter.
Desviou o olhar pra uma criança que chorava e observou como somos inocentes em todas as fases da vida. Não apenas quando somos crianças, mas aquela inocência de sempre planejar o amanhã, mesmo sabendo das infinitas possibilidades que podem transformar o nosso dia.
Se encostou no vidro da janela e aumentou o volume da música que escutava, decidiu que era momento de refletir. Achou besteira refletir no ônibus, mas quem consegue definir a hora certa de conversar consigo mesmo?
Achou que era hora de olhar pra dentro e decidir seu futuro, não daqueles momentos que vê uma criança e pensa em ser mãe, ou que vê um garoto e se imagina casando com ele. Esse era daqueles momentos raros em que tudo que está guardado no peito transborda pelos olhos sem motivo aparente, lavando o cômodo e dando espaço pra mais
Pensou em como seria ir embora praquela cidadezinha que tanto ama, pensou em como seria montar aquela loja com coisas que tanto gosta, pensou em como seria voltar a estudar, tocar violão, casar(um dia beeem no futuro)...Pensou principalmente em como seria se parasse de ter medo e resolvesse fazer o que sempre quis: largar tudo e ir mochilar, ou pintar o cabelo de roxo, ou quem sabe até chamar aquele menino legal pra tomar um café. Quem sabe o que aconteceria se ela parasse de ter medo e parasse de adiar vontades a tanto tempo reprimidas?!
Se ajeitou na cadeira, enxugou as lágrimas e começou a escrever. Uma amiga que estava no mesmo ônibus a reconheceu, a cumprimentou e perguntou se ela estava escrevendo uma carta. Respondeu que sim, uma carta para si mesma. -E o conteúdo? Perguntou a amiga. -Uma lista de tarefas. Respondeu. Tarefas pra mudar meu mundo, completou em pensamento.
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