Desculpe a demora na resposta. Há um certo tempo que quero
te dizer algo. Dói um pouco falar por que faz tempo que isso “tá” entalado na
minha garganta. O tempo passou e essas palavras que saem de forma rouca agora
podem não fazer mais tanto sentido, mas me faz bem colocá-las pra fora.
Ontem eu te vi na sacada da sua janela, fui até a sua casa
pra dizer que eu te queria. Parei, olhei sua barba e dei meia volta, minha moto
engasgou e apagou duas vezes, quase atropelo um pobre cachorro que teve a
infelicidade de cruzar meu caminho e derrubei uns papéis ao longo da estrada me
fazendo dar meia volta e ver de relance você entrando dentro de casa.
Era o destino me mandando seguir meu cérebro, naquele
momento era você que ocupava toda a minha cabeça.
Passei a noite em claro não pensando em você, mas pensando o
que teria acontecido se eu tivesse tocado a campainha da sua casa, tivesse me
jogado em seus braços e pedido um único beijo. Apenas um, eu diria, assim, você
poderia escolher se gostaria que nossos lábios se tocassem novamente.
Levantei da cama com a cabeça pesada e o com essas palavras
ainda na garganta, o “bolo” de sentimentos ficou endurecido e agora é realmente
difícil cuspir de forma compreensiva. A vontade é de gritar e agir feito louca,
acho que o amor tem dessas coisas, mas prefiro te dizer assim. Um papel com
letras miúdas pra só você ler.
Resolvi fazer isso por que a imagem de você entrando em casa
sem ter meu ouvido, sem eu ter te visto, pareceu algo muito doloroso. A morte é
iminente mas o futuro é incerto, na aula de violão, segurei as lágrimas
enquanto aprendia as notas de “É você, da Marisa Monte”. Não chorei de
arrependimento, só pra esclarecer, chorei por que tive medo do futuro em que eu
nunca me declaro, eu nunca olho em seus olhos e cuspo em você esse sentimento
que me atormenta. Não é culpa sua, na verdade nem minha, o amor é algo que
simplesmente surge, mas que não desaparece.
E agora, quando estou nesse avião e digito essa mensagem
enquanto o celular ainda tem bateria, eu posso respirar aliviada por arrancar
esse aperto que me consumiu por tanto tempo. Acho que não sentirei saudade, mas
ficarei nostálgica quando lembrar de quando deitava no seu colo e você mexia no
meu cabelo.
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