Há três anos, no dia 10 e janeiro de 2014 eu ecrevia uma carta para o meu EU do futuro. Na época eu postei aqui, mas acabei esquecendo e hoje encontrei esse texto em um dos meus cadernos. Resolvi fazer um bate papo com a Carla de 22 com a Carla de 25. Ficou um pouco grande, então não estranharei se você não quisesse ler. Mas se quiser, seja bem vindo.
Olá EU do futuro.
Olá Eu do passado.
Primeiramente
uma simples pergunta: Como é ter 25 anos? Você já sabe o que quer da vida? Por
que sendo bem sincera, as coisas não vão muito bem por aqui. Descobri que não gosto
do curso que fiz e não tenho a mínima ideia do que quero fazer agora. Não estou
habilitada, não comprei minha casa como eu planejava quando tinha 16 e nem achei
o amor da minha vida, aliás, ele vem né?
Olha, ter 25 é praticamente igual a 22, só
que com 3 anos a mais, às vezes já me sinto velha. Ainda não sei o que quero da
vida, mas com certeza sei o que não quero, e isso definitivamente não inclui continuar
do jeito que estou. Muita coisa mudou e se eu fosse comparar, ter 22 era bem melhor.
Agora já estou habilitada e comprei um terreno, sabe, pra fazer o sítio que Mainha
tanto queria, mas desisti dele e daqui a pouco você descobre o por que. Amor? Ih
amiga, isso tá ficando pra depois, não sei se somos nós ou os outros, mas
encontrar alguém? Tô achando mais fácil achar pepita de ouro no quintal.
Ah,
lembra a lista enoooorme que eu tinha de coisas que eu queria fazer? Então,
como anda ela? Aprendeu um novo idioma? Fez aquela tatuagem? Os amigos ainda
são os mesmos? Tá tão difícil confiar no pessoal por aqui. Cada dia eu me sinto
mais sozinha. Cheguei a conclusão de que
a maturidade me deixa doente.
A lista como sempre, mudou muito, algumas
coisas tirei por que o tempo passou e achei bobagem, e não inclui mais por que não
adianta criar lista e não cumpri-las, certo? Sobre o novo idioma? Só a
linguagem das grandes empresas. Tatuagens você já tem duas e cada dia querendo
mais. Amigos? Poucos, mas bons. Confiança sempre será peça rara, então nem se
preocupe. E a maturidade? É uma droga.
Mas mudando de assunto, como
estão os nossos pais? Brigar com eles faz eu me sentir com 8 anos de novo e não
de um jeito legal.
Tá preparada? Mainha se foi. Nos deixou ano passado e levou com
ela toda nossa alegria de viver, foi o meu primeiro grande baque. Sabe aquela
tristeza profunda que tínhamos quando criança? Voltou. Nada mais faz sentido e
muitos dias eu ainda deixo de dormir me perguntando por que estou aqui se o
sentido da minha vida se foi em janeiro de 2016. Sabe? Nunca pensei que algo
pudesse doer tanto, jamais imaginei que aquela certeza que eu tinha sobre o tempo.
Sabe aquela de que ele curava tudo? Era mentira. Descobri que há dores que nem
o tempo pode apagar e que é sim possível chorar uma noite inteirinha e preferir morrer a
continuar sentindo aquilo. Poisé, esses pensamentos ainda estão por aqui, e ‘aquilo’
ainda tá guardado, nunca se sabe quando eles vão finalmente nos dominar.
Pai
continua distante. Vivendo no mundo dele e eu no meu, continua esquecendo dos
nossos aniversários e de ligar no natal. Nada novo, só as velhas decepções de
sempre. Eu devia ter aprendido aos 22, que não dá pra esperar novas atitudes de um
macaco velho.
E nossos irmãos? Espero que não tenham mudado muito.
Olha, mudaram sim, e muito mesmo. Paula continua do mesmo jeito,
pegando no seu pé, agindo como se fosse mainha e querendo impor uma autoridade
que não existe, mas você continua querendo cuidar dela, mania sua de querer
consertar o mundo. Já devia ter desistido sabia? Nunca deu jeito mesmo.
Uma parte boa dos 25? Carlinho acabou de te dar nosso maior
desejo. Hoje temos um bebê fofinho de nome Victor pra um dia nos chamar de
titia. Hoje, por enquanto você tem ainda um motivo pra continuar acordando
todos os dias.
Espero também que você esteja
arrebentando no violão, que tenha ficado mais decidida e que esteja
aproveitando mais. Sei que 3 anos não é muito, mas com certeza eu não fiz muita
coisa até os 22 e não quero que continue assim aos 25.
Violão é outra história, tua coordenação motora foi pro espaço e
você continua usando isso como desculpa. O violão tá lá, dentro da caixa e em
cima do guarda roupa, nem toca e nem vende. Mais decidida você ficou mesmo,
sabe se impor muito melhor e as vezes tem até que dar uma freada nisso, mas se
diverte muito mais e aos pouquinhos tá perdendo os medos.
E meus filhos, como estão? É
claro que estou falando dos meus bebês de 4 patas. Espero que você não mude
nada em relação a seu amor por eles senão eu apareço aí no futuro só pra chutar
a sua bunda. Desculpe, não quis ser agressiva. Velhas manias, você sabe.
Se segura, aí vai o segundo baque. Nossa filha se foi. 2016 levou
nossa mãe e nossa filha. Outra perda irreparável que a gente nunca vai superar.
Os gatos ainda estão aqui, cada dia mais preguiçosos, mas cachorro a gente não
quer mais, não consegue, dói ver foto, chora com vídeo e toda vez que se lembra
daquele focinho peludo perto da gente, pensa que foi um erro continuar aqui sem
ela. Como a gente aguenta? Pensa em Victor. É só por ele.
Ainda tenho aquela mania horrível
de perder horas e horas planejando e imaginando o futuro e esquecendo de viver
o presente?
Será que você está muito
arrependida das escolhas que fiz? E as burradas? Deu pra consertar alguma? É,
eu sei que foram muitas, mas faz parte da vida, certo?
Tem. Ô mania desgraçada. Mas estamos evoluindo, fazendo mais e
prometendo menos, viajamos, saímos, namoramos mais, evoluímos, um passo de cada
vez. Sobre as escolhas? Elas são inevitáveis e o erro nada mais é do que o
resultado de uma escolha ruim, e como não podemos prever, o que podemos fazer é
aprender com eles e evitar que se repitam. Olha só, maturidade não é de todo
ruim né?
Vou partindo antes que me estenda
muito. Desejar saúde e paz não adianta, nós duas sabemos que estas são “coisas
de prática”. De resto, espero apenas que você saiba onde quer chegar, que tenha
diminuído suas inquietações e que tenha se tornado mais confiante. Me disseram
que isso é coisa de idade. Enfim, te vejo no futuro.
Olha, não sei nem onde e nem quando quero chegar, mas sei que a
direção é pra frente, nada de se prender ao passado, por mais difícil que isso
seja, e sempre focar no futuro. É com um passo de cada vez que conseguimos
percorrer longas distâncias. Obrigado pelo passado e nos vemos de novo no
futuro.