segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Saudades de quando eu era pequeneninha

        Já mencionei aqui sobre minha saudade de infância com a minha mãe. Eu costumava deitar no colo dela à noite enquanto ela cantava a musica da lua pra mim. Na época meus irmãos estudavam a  noite e meu pai trabalhava viajando. Na nossa casa não tinha luz então eu passava as noites com minha mãe olhando pro céu enquanto meu cachorro cuidava da gente.
O engraçado é que só vim descobrir quando decidi escrever esse post que a musica que ela cantava pra mim era de Raul Seixas. Tinha uma certa “adaptação” na letra, mas eu ainda lembro muito bem dela cantando pra mim.



Raul Seixas


Lua bonita,
Se tu não fosses casada
Eu preparava uma escada
Pra ir no céu te buscar
Se tu colasse teu frio com meu calor
Eu pedia ao nosso senhor
Pra contigo me casar
Lua bonita
Me faz aborrecimento
Ver São Jorge no jumento
Pisando no teu clarão
Pra que cassaste com um homem tão sisudo
Que come dorme faz tudo, dentro do seu coração?


      Sinto saudades também de esperar meu pai chegar de viagem. Meu pai era caminhoneiro e toda a minha infância e a maior parte da minha adolescência eu tive um pai que passava boa parte do tempo fora de casa. Era quase um mês fora, viajando o país, ligando para gente só de semana em semana, ou quando dava. Quando ele ligava avisando que tava voltando, eu mudava completamente minha rotina atarefadíssima de criança e passava os dias em cima do pé de caju da minha casa para poder ver a avenida pela qual ele chegava. Quando ele estava há dois quarteirões de distância, dava para ouvir a aceleração do caminhão pra passar em um quebra molas e nessa hora eu sabia que era o meu pai que estava voltando pra casa. Eu corria pro pé de caju e esperava ele “apontar” na esquina. Quando eu via a frente daquele velho caminhão amarelo eu corria para abrir a “porteira” e esperar o meu pai no batente do nosso alpendre.

        Essa é a saudade que mais dói, porque no mesmo batente em que eu ficava, minha mãe esperava também pelo meu pai. Depois que ele me abraçava, ele segurava minha mãe pela cintura e dava um selinho nela. Curtinho, singelo, mas cheio de amor. Minha mãe passava a mão na cabeça dele e perguntava como tinha sido a viagem, se era boa, ele dizia, se era ruim ele dava um suspiro demorado e ela já entendia. Eu sabia que mais tarde eles conversariam, sempre distante de mim. Naquela época eles tinham uma preocupação sobre o que chegava aos meus ouvidos. Eu pequenininha olhava pra cima acompanhando aquela cena e pedindo a “papai do céu” para aquilo nunca acabar. Pena que ele não me ouviu.


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